Desde 2010 estamos estudando os elementos que constituem a natureza, e portanto, o nosso corpo... mulher representa a natureza e seus ciclos de forma direta, mas deve-se conectar com seus elementos vitais para que essa vivência não fique embotada... daí a conexâo desse estudo com a dança do ventre e psicoterapia...
Disponibilizo por aqui, a extração de um trecho do texto sobre a composição/simbologia do fogo , através de uma leitura Junguiana.
Abraços.
Trecho extraído do site: http://www.symbolon.com.br/artigos/hestia.htm
Simbologia do fogo
Segundo Junito de Souza Brandão, a maior parte dos aspectos simbólicos do fogo está sintetizada no hinduismo. Agni, Indra e Súrya representam as chamas do nível telúrico, do intermediário e celestial, ou seja, o fogo comum, o raio e o sol, existem ainda mais duas representações: Vaishvanara que é o fogo da penetração ou da absorção e o fogo da destruição representado por um outro aspecto do próprio Agni.
Consoante o I Ching o fogo corresponde ao sul, à cor vermelha, ao verão e ao coração, sendo que sob este último aspecto ora pode representar a paixão, ora o espírito ou o conhecimento intuitivo.
Tanto no antigo quanto no novo testamento o fogo é elemento que purifica e limpa, tornando-se o veículo que separa o puro do impuro (essa é também a visão da alquimia), destruindo eventualmente este último.
O fogo sacrificial do hinduismo é substituído por Buda pelo fogo interior, que é simultaneamente conhecimento penetrante, iluminação e destruição do invólucro carnal.
O aspecto destruidor do fogo também comporta uma conotação negativa e o domínio do fogo é também uma função diabólica. Observe-se a propósito da forja: seu fogo é ao mesmo tempo de demiurgo e do demônio.
O fogo tem também o aspecto de regeneração e renovação, em muitas culturas primitivas, os inumeráveis ritos de purificação certamente configuram os incêndios dos campos que se revestem, em seguida, de um tapete verde de natureza viva, não é necessário comentar a correspondência psicológica que essa imagem nos traz.
Segundo Bachelard existem duas direções ou constelações psíquicas na simbologia do fogo, de acordo com sua origem, conforme é obtido pela percussão ou pelo atrito. No primeiro caso está intimamente ligado ao relâmpago, à flecha (portanto ao princípio espiritual) e possui um valor de purificação e iluminação e se opõe nesse sentido ao fogo sexual obtido pela fricção, assim como a chama purificadora se contrapõe ao centro genital da lareira matrilinear, como a exaltação da luz celeste se distingue do ritual de fecundidade agrária. Na sua dimensão simbólica o fogo obtido pela percussão representa a etapa mais importante da intelectualização do cosmo e afasta mais e mais o homem de sua condição animal.
Para os Astecas o fogo terrestre, ctônico representa a força profunda que permite a união dos opostos, a ascensão, a sublimação da água impura em água celestial, a água pura e divina. O fogo é o motor, o grande responsável pela regeneração periódica. O fogo que simboliza Héstia é também ctônico, vindo das profundezas da Terra, é uma chama que nutre ao mesmo tempo que ilumina a vida psíquica.
Simbologia do círculo (um espaço sagrado localizado no centro)
Barbara Kirksey, em seu texto "Héstia um fundamento de enfoque psicológico" introduz seu estudo sobre a deusa com uma pergunta: "Qual o centro para os deuses e para os próprios gregos?" E recorre a Héstia para responder a essa questão, pois que esta era venerada no centro dos lares, das cidades e do mundo, como assim consideravam o onphalos de Delfos.
A importância de Héstia na vida psicológica advém de sua habilidade em mediar a alma, dando-lhe um lugar onde se congregar, um ponto de junção em que a alma e o mundo se misturam.
É através da presença mediúnica de Héstia que a moradia do mundo do homem é psicológica. O ato de imaginar, atividade psicológica por excelência, não está separado do mundo. As moradias que criamos e onde moramos interior (sonhos e fantasias) e exteriormente manifestam um aspecto de nossa alma. A casa mais do que a paisagem é um estado psíquico. As moradias do mundo cotidiano falam dos lugares de nossa alma, revelam um lado íntimo de nossa psique.
A alma sob a perspectiva de Héstia se nos revela em termos de metáforas espaciais, assim a patologia que se manifesta através da linguagem da deusa da lareira contém frases referentes ao espaço: "Fora da base, fora do centro, incapaz de se fixar, distanciada, sem um tapete sob os pés, numa demonstração de que sem os valores de Héstia e do seu poder de integração a alma é incapaz de encontrar um lugar onde morar.
Uma das fantasias relacionadas à patologia da alma e que se faz muito presente desde os povos primitivos é a da perda da alma. Cícero afirmava que a alma doente era aquela que não podia alcançar ou persistir, estava sempre perdida. Quando perdida a alma não tem ligação psíquica com Héstia e sua centralidade. A alma não pode ir para casa porque não há um lugar para se retornar. Nesse contexto a ausência de Héstia representa uma ameaça muito grande para a integridade da psique, com sua multidão de imagens e a influência delas. Sem Héstia não pode haver concentração na imagem e não há limites que distingam a intimidade da moradia interior e do mundo externo, pois não há uma casa psíquica que ofereça paredes protetoras que tornem possível as celebrações da vida, o alimento para a alma.
Sem a presença de Héstia, que se pode observar em certas desordens transitórias da psicose, particularmente das esquizofrenias não existe separação entre os espaços de dentro e de fora, não há barreiras protetoras, que possibilite a permanência das imagens de tal modo que o mundo psíquico todo é vivenciado como transitório e fugaz.
As imagens de sonhos comuns em pacientes esquizofrênicos latentes revelam esse desarranjo profundo em termos de um espaço habitável apresentados imagisticamente como a Terra ou como um edifício. Jung cita algumas dessas imagens tais como: "a terra transformando-se em água, o chão ondulando sob os pés do paciente, o fim do mundo ou as paredes aumentando e curvando-se.
Barbara Kirksey acredita que essa frágil coesão e insegurança está relacionada com a ausência da capacidade mediadora de Héstia, que acolhe e centraliza os acontecimentos aleatórios num espaço comum e aqui cabe relembrar o mito realçando o fato de ser essa deusa a primogênita e ao mesmo tempo a última, espécie de figura alfa-ômega da psique. Sua ausência ameaça toda a estrutura psíquica da personalidade em caos.
Assim como Hermes exerce a função mediadora que conecta e move a alma, também Héstia tem uma função coesiva na alma que preserva o elemento de plenitude e permite ao indivíduo imaginar "em paz"
A lareira redonda de Héstia com um fogo sagrado no centro é uma forma de mandala, símbolo da integridade e da totalidade.
Héstia e sua função de guardiã das imagens
De acordo com o relato de Ovídio, Paládio, uma imagem de Atena em vestes guerreiras, era guardada por Vesta em seu templo localizado em Roma. Tal imagem havia sido roubada de Tróia e acreditava-se que a ela se devia a preservação do império. Vesta foi designada a guardiã dessa imagem de Minerva, graças ao seu poder de iluminação que nunca falha, um poder que tudo vê e que assim preservava com sua luz a integridade do império.
A força de Héstia difere das outras duas deusas virgens Atena e Ártemis, pois enquanto estas manifestam seu poder sob a forma de atos de afirmação, Héstia ilumina e sua luz proporciona proteção e nutrição às imagens.
Jean Shinoda Bolen nos diz ser uma características das deusas virgens a visão e a percepção focada, mas enquanto Atena e Ártemis dirigem sua luz para o exterior, Héstia a direciona para o interior e quando o enfoque se volta para o interior, em direção a um centro espiritual a vida adquire um significado maior, tem-se um ponto de referência interior que nos permite permanecer firmes no meio da confusão, da desordem, da afobação do dia-a-dia.
Quando se fala em capacidade de iluminar, vem-nos à mente a questão do lugar para onde se dirige essa luz, ou seja, qual o seu foco e, segundo Ovídio, a palavra para terra em latim é focus e a terra (focus) em latim é assim chamada por suas chamas e porque ela nutre todas as coisas.
No ramo da ciência que estuda os fenômenos da propagação da luz, a óptica, foco é o ponto no qual os raios se encontram depois de refletidos ou refratados e também o ponto do qual os raios podem originar-se. Foco, portanto, é o ponto de separação e ao mesmo tempo de convergência do raio. A origem desse ponto expressa-se pela figura mítica de Héstia.
Uma outra definição da palavra foco que se associa mais estreitamente com a vida psicológica vem do teatro moderno. No teatro, foco é a parte mais iluminada do palco e é nesse espaço mais iluminado que se desenvolve a trama que dá sentido à peça. Também em nossa vida psíquica aqueles caracteres que aparecem em nossas experiências psicológicas mais brilhantemente iluminados são o foco, que dão sentido ao drama de nossa vida.
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