11 de abr. de 2013

A beleza da menstruação

10 abril, 2013
Por: Kalu Brum
A fotógrafa Isa Sanz mostrou a menstruação com uma série de imagens que retratam a mulher interagindo com o sangue menstrual. As fotos são da série "Sangro, pero no muero"
A fotógrafa Isa Sanz mostrou a menstruação com uma série de imagens que retratam a mulher interagindo com o sangue menstrual. As fotos são da série “Sangro, pero no muero”

Primeiro dia de Lua Nova.
Quantas vezes a gente já não reclamou quando a menstruação chega. Chamada de monstra, de chico. menstruar passou a ser mais um atributo biológico desnecessário na sociedade moderna.
Uma vez ouvi de uma parteira chilena que os problemas do parto começam com a não aceitação da menstruação. Segundo essa sábia mulher, o sangue que derramamos em ciclos próximos aos lunares (28 dias), é um grande portal de poder feminino.
É através de nossa menstruação que nos conectamos com os ciclos da lua, com a força da natureza interna que aponta o momento em que o ventre chora em despedida ao óvulo não fecundado. Momento esse que nos esvaziamos mental e fisicamente dos despejos espermatozóicos masculinos, que carregam não só matéria, como sentimentos que são acolhidos em nosso ventre.
Nossa sociedade dinâmica e intensa bloqueia o contato com este poder feminino que é menstruar. Masculinizar a essência para servir ao mercado é sinal de sucesso. O sangue é considerado nojento e a falta de contato da mulher com seus próprios processos geram um distanciamento deste centro de poder fundamental para o parto e amamentação.
Algumas sociedades acreditam que a menstruação é um momento especial.Em algumas tradições matriarcais o sangue era uma forma de reverenciar a Deusa e um momento especial porque confere à mulher poderes mágicos, chaves para seu inconsciente.
Em uma sociedade asséptica, em que mulheres são consideradas vitoriosas por não menstruarem, adotando muitas vezes recursos como os chips de hormônios inseridos debaixo da pele, lidar com os próprios produtos que saem das entranhas do corpo é algo impensado.
Na busca pela assepsia de emoções e corpos que faz sentido deitar-se alheia,com o ventre seccionado para a retirada do bebê, que será higienizado antes de ser colocado em contato com a mãe.
Existe um poder escondido, quase secreto, que reconecta à mulher a si mesma através da menstruação. Sangrar é entregar esse sangue como veículo de renovação. Nega-se é o que gera a Tensão Pré Menstrual como sérias mazelas corporais e físicas.
Quando negamos as diversas etapas de ser mulher, abrimos mão do profundo poder que é ser. O primeiro portal de poder feminino é a menstruação, segue com a primeira relação, fortalece-se como parto e consagra-se com a menopausa.
Assim como as mulheres não querem menstruar, lutam com bisturi contra seus corpos sábios e vividos no fim do ciclo fertilidade em busca de uma eterna juventude. Talvez não queiramos envelhecer na tentativa de viver o nascer que muitas vezes nos foi retirado.
Conheço mulheres que tomam pílulas para não menstruarem em determinadas ocasiões. Uma viagem com namorado, lua de mel. Como se pudéssemos pegar nossos processos fisiológicos para que nos sirvam. Tem quem abra mãos de menstruar. Transar menstruada é um tabu. Mas se você for perguntar para os homens, este tabu é muito mais feminino.
Há quem tenha nojo do próprio sangue?! Depois de começar a usar os coletores, menstruar se tornou ainda mais fácil. Posso correr (que não vaza), entrar na água (que não fica aquele tufo inflado de algodão por dentro). É só lavar, algumas vezes por dia. E como o sangue não entra em contato com o ar, ele não tem aquele cheiro desagradável dos absorventes descartáveis.
Por muito tempo a menstruação era para mim um grande problema. Não pelas cólicas, que nunca tive, nem pelo fluxo, mas porque eu nunca gostei de usar absorvente. Meu ciclo sempre foi perfeito – 28 dias. A Menstruação sempre durou 4 dias. Mas eu era atleta e a menstruação diminuía meu rendimento e quando menstruada tinha que usar absorvente interno para nadar ou malhar.
Parar de menstruar foi um ato bem simbólico para mim. Isso aconteceu durante a gestação e depois de nove meses. Eu senti a menstruação vindo. Virei um bicho. Brava, agressiva. A loba que nascia no parto que mostrava sua face escura na lua nova. Foram as minhas TPMs que me mostraram o caminho de resgate do meu feminino que se fragmentara criando um caleidoscópio da antiga Kalu, para a nova. Passei a entender que as TPMs são, na verdade, uma lente de aumento para aquilo que não vai bem. Uma grande oportunidade para olhar de perto e bem fundo o que nos assola.
Ano passado, em outubro, depois do curso da Mother Maya, sobre a cura do feminino, passei a fazer aplicação de um chá para amenizar os efeitos da TPM na minha vida.
Receita do Chá
3 colheres de sopa de pétalas de rosas vermelhas orgânicas
3 colheres de sopa de folha de morango silvestre seco (pode substituir por gel de babosa puro 1 colher de sopa)
Ferver duas xícaras de chá de água em banho maria. Quando ferver jogar as pétalas e deixar tampado até estar mais fria do que um chá de beber. Aplicar com uma ponteira vaginal em recipiente de enema (preferência por metal). Colocar lá dentro. Reter e depois soltar, deitada no chão, de barriga para cima, com os pés apoiados no chão, inclinando para cima o quadril e liberando-o levemente.
Esse chá ajuda a melhorar todos os processos femininos. Sempre aplicar no segundo dia de lua nova, até o nono dia da lua, dia sim e dia não. Para quem já menstrua na Lua nova ele serve para limpar o útero. No pós parto, banho de assento com esse chá é ótimo para cuidar desta região.
Em 3 aplicações comecei a menstruar na Lua Nova. Depois de passar 2 finais de semana seguidos trabalhando com os aspectos do feminino, minha menstruação atrasou 10 dias, e chegou no segundo dia de Lua Nova, trazendo para mim a renovação.
Minha menstruação sempre foi muito simbólica para mim. Ela me mostra sobre minha saúde emocional principalmente. Sempre que inicio uma nova relação minha menstruação muda. Como se entrasse em um novo ciclo com aquele parceiro. E no término, ela vem, como para mostrar o fim.
O caminho de aceitação pelo feminino, em minha opinião, passa por uma aceitação da menstruação e dos demais processos que nos cabem: parir e amamentar. A beleza do feminino não é abrir mão disso, mas aprender a conviver bem com tudo isso. E todos esses processos são um convite de olhar e adentrar em si mesma, percorrendo os caminhos das sombras para ver as estrelas.
Não tenho filhas, mas meu filho sempre vê meu sangue. Não me escondo. Ele me pergunta sempre a menstruação e uso a analogia da lua para explicar o que acontece com as mulheres. A lua cheia, o útero que espera o filho e quando este não vem, o corpo que se renova.
Quando ele não vê a lua no céu ele diz: está perto do dia de você sangrar, né, mãe?
E assim, conectada e de posse de nosso sangue, podemos fazer uma revolução interna. Menstruar é um verbo feminino que temos que ter orgulho de conjugar, como parir e amamentar. Claro que podemos abrir mão, mas não sem consequência para nosso crescimento feminino.
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