25 de set. de 2016

Análise sociológica do Amor nos tempos atuais - Beatriz Leite

Não é tão recente, nas redes sociais, esse fenômeno do compartilhamento de vídeos e entrevistas do Bauman falando sobre amor líquido. Parece que, de uns tempos pra cá, o povo decidiu que todas as frustrações amorosas que vivem são culpa desse novo tipo de amor frágil, esse vilão da vida afetiva contemporânea. Mas será que é isso mesmo?
Vamos voltar umas casas e definir as coisas: Zygmunt Bauman é um senhor sociólogo polonês que fuma cachimbo, escreve um monte de livros e chama os tempos atuais que vivemos de modernidade líquida. Essa liquidez à qual o Bauman se refere é uma metáfora para como tudo hoje em dia, graças à globalização e ao uso das tecnologias, é muito rápido e fácil, fazendo com que seja mais fácil descartar as coisas. Isso, segundo o Bauman, é transportado para as relações , que seriam frágeis e pouco duradouras, pois, em tese, vivemos sempre em busca de algo melhor e descartamos pessoas como se fossem mercadorias. (Isso é um resumão, ok? Se quiser se inteirar melhor, dá uma olhada nos livros dele.)
Não estou questionando a genialidade do nosso querido sociólogo polonês, mas a maneira como ele fala do amor sempre me incomodou um pouco. É mesmo tudo frágil e descartável assim? Somos mesmos consumidores uns dos outros e tratamos uns aos outros como mercadorias? E é só isso que o cenário contemporâneo tem pra gente no que diz respeito às relações amorosas? Desculpa aí, Bauman, mas acho que você está sendo pessimista demais e talvez um pouquinho preguiçoso (roleta do unfollow).

Uma visão mais otimista sobre o mesmo tema

Em A Transformação da Intimidade, outro sociólogo, Anthony Giddens, fala sobre a mesma questão que Bauman trata em Amor Líquido, isto é, as mudanças nas relações amorosas, só que ele a analisa de maneira diferente. Ambos reconhecem as mudanças sociais que marcam o cenário contemporâneo pela rapidez e pela fluidez e ambos entendem que tais características influenciam diretamente as relações interpessoais. As interpretações dos dois diferem quanto aos aspectos positivos e negativos dessa influência nas relações. Enquanto Giddens celebra a fluidez como uma maneira de libertação, chamando à atenção as múltiplas possibilidades de se relacionar afetiva e sexualmente e à facilidade da busca por algo melhor em casos de insatisfação, Bauman associa essa fluidez a uma espécie de descartabilidade das relações (e, consequentemente, dos indivíduos envolvidos nela) e a um eterno hedonismo.
Essa crítica que o Bauman faz às relações contemporâneas é tão amplamente aceita, que tem sido tão comum gente falando sobre isso quanto encontrar textos sobre o que aconteceu com a geração Y, essa que, supostamente, não trabalha nem constrói vínculos. Eu não sei vocês, mas eu estou de saco cheio e acho que podemos ir além desses lugares comuns e fazer análises mais profundas. Quando se fala de como a geração Y se comporta e de como as pessoas lidam com as relações amorosas agora, me parece que se parte necessariamente de uma romantização do passado. Chamo isso de “ilusão do saudosismo”, essa prática comum de esquecer o que teve de ruim, exaltar o que passou e achar que o agora é a pior época que já existiu.

Sobre a ilusão do saudosismo

Ao referir-se às relações de hoje em dia como vazias de significado, muito rápidas e facilmente descartadas em oposição às relações duradouras de antigamente, é preciso levar em conta os motivos pelos quais essas relações antigas duravam tanto tempo. A crítica à rapidez das relações parece partir de um pressuposto de que, antes, as pessoas se esforçavam mais para manter uma relação e que esse esforço se dava graças ao amor, mais valorizado em outros tempos.
Essa perspectiva me parece limitada e ilusória, pois desconsidera que muitas relações eram duradouras simplesmente porque o divórcio não era bem visto pelas sociedades, porque as mulheres não tinham possibilidade de independência financeira e porque os discursos de amor romântico (um amor que deveria durar para sempre) eram propagados por interesses econômicos e religiosos justamente para estimular os casais a permanecerem juntos. Desse modo, muitos casais permaneciam juntos por toda a vida não porque se amavam, mas porque sentiam não ter outra opção.

E o amor tem mesmo que durar pra sempre?

Por mais que hoje em dia outros discursos sobre amor se façam presentes nas
sociedades contemporâneas, ainda circulam também discursos de que o amor — se for mesmo amor — , deverá durar para sempre. Entendo esse discurso como potencialmente nocivo aos indivíduos em uma relação, pois ele pressupõe que o amor seja capaz de suportar tudo e passar por uma série de provações. Quando se acredita que o amor suporta tudo e precisa de provas, acredita-se também que a dificuldade é natural a esse sentimento. É essa crença, que muitos indivíduos compartilham, que pode levar a relacionamentos emocionalmente abusivos, pois essa dificuldade não só seria intrínseca às relações amorosas, como seria também parte dos testes pelos quais um amor passa.
Outro aspecto que considero nocivo no discurso de amor como necessariamente duradouro é que, mesmo que não chegue a configurar uma relação abusiva, uma relação insatisfatória aos indivíduos envolvidos pode ser mantida por anos, privando esses indivíduos de experiências mais proveitosas. A crença de que pode haver algo ou alguém melhor e escolher terminar um relacionamento amoroso para ir em busca disso
não é necessariamente hedonista como levantado por Bauman; ela pode, na verdade, ser uma maneira de libertar indivíduos que estariam presos a uma relação insatisfatória simplesmente por não terem coragem ou não acharem possível dar um fim a ela.
 Enfatizo, então, novamente, que a duração prolongada de um relacionamento amoroso está longe de significar uma prova de que ele é baseado em amor verdadeiro, tampouco significa que os indivíduos nesse relacionamento estão felizes e satisfeitos.

O regime amoroso antigo X o regime amoroso atual

Os discursos mais comuns que observo em textos de internet e conversas por aí sobre a insatisfação que muitas pessoas sentem com suas próprias vidas afetivas hoje em dia são uma comparação entre como o regime amoroso era e como ele é agora. O atual parece indicar amores rápidos (imediatismo), convenientes (voltados para o utilitarismo da relação), sazonais, práticos, provisórios, descartáveis, substituíveis, impulsivos ou marcados por uma euforia momentânea, e passíveis de traição. Enquanto isso, o amor de antigamente seria algo mais lento, emocional, cuidadoso, companheiro, permanente ou eterno, confiante, maduro, capaz de estabelecer vínculo duradouro, marcado por entrega emocional, completude, confiança e conectividade entre os parceiros, configurando algo mágico. Essa é uma oposição muito clara entre o que se chama de amor líquido e o que se entende por amor romântico.
Essa exaltação do amor romântico não é de se espantar, afinal, ele é vendido o tempo todo em filmes e na literatura. Nada vende mais do que amor romântico — observe os best-sellers. O que eu quero argumentar aqui é que esse outro amor que a gente vive hoje em dia não é necessariamente o líquido. Aquele outro sociólogo, o Giddens, fala sobre amor confluente. O grande lance do amor confluente é que ele é mais pautado no real, afastando-se daquela ideia do amor romântico de encontrar alguém que te complete. Enquanto o amor romântico prevê sacrifícios, o amor confluente é mais livre e mais maleável às contingências. Isso de ser livre é frequentemente confundido com não se importar, com não ter carinho, afeto, cuidado. Volto a chamar atenção para a ilusão do saudosismo: as relações de antigamente não necessariamente tinham todas essas características das quais se sente falta na atualidade.
Outra vantagem sobre a qual Giddens comenta é o que ele chama desexualidade plástica, ou seja, a possibilidade cada vez maior que há hoje em dia de se relacionar sexualmente com diversos parceiros sem a necessidade de manter um vínculo emocional duradouro. Pode ser que isso não seja a sua praia, mas não é lindo ter a opção?
Querendo ou não, o amor romântico é necessariamente um amor idealizado, que simplesmente não é compatível com a vida contemporânea. Isso não quer dizer que amor não exista mais e que as pessoas são frias, mas o tipo de amor é outro porque as demandas são outras. E não há nada de errado nisso.

E o que isso tudo tem a ver com a geração Y?

Eu gosto muito do que a Débora Nisenbaum fala no texto A incrível geração que está cagando para os seus protocolos sociais: não é que a geração Y (e nós que vivemos mais ou menos ao redor dela) não saiba amar ou criar vínculos, é que ela não se importa tanto em seguir protocolos sociais. O amor romântico de antigamente era propagado justamente para manter os protocolos sociais de casamento que dura pra sempre, por exemplo. Se você vai enxergar essa liberdade de escolha como amor líquido ou amor confluente, é uma opção sua.
Mas vamos pensar aqui comigo. Você realmente acha que era o amor da sua vida aquele cara que não se deu nem ao trabalho de terminar com você direito e fez o famoso ghosting? Você acha mesmo que aquele relacionamento meia-boca que você tinha devia ter durado pra sempre porque a outra pessoa te amava muito? Você acha que uma pessoa que tem a autoestima destruída pelo/a namorado/a deve segurar firme porque amor é assim mesmo, passa por inúmeras dificuldades? Você acha que vale a pena apanhar por amor? Você acha que deve investir mais no cara que você achou muito, mas muito chato? Você acha que deve manter seu casamento mesmo quando vocês já não se gostam mais?
Focar tanto no amor líquido e na suposta fragilidade das relações me soa como uma tremenda ingratidão ao mundo de possibilidades que temos hoje, porque hoje temos poder de escolha. Tem coisa melhor do que poder escolher? Eu não consigo pensar em privilégio maior do que esse. Amor não é ficar preso a uma relação, amor não é ficar junto pra sempre, amor não é passar por uma série de dificuldades até chegar a um final feliz — pelo que observo, quando se passa por uma série de dificuldades, o que não tem é final feliz.
Os tempos de hoje não se resumem a um amontoado de gente querendo amor mas só conseguindo relações frágeis, da mesma maneira que, antigamente, as relações não eram mais felizes e satisfatórias só porque duravam mais. Vivemos em uma época que nos permite escolher se queremos ou não manter uma relação e que não nos culpa (ou nos culpa cada vez menos) quando decidimos terminá-la. Acredito que isso, na verdade, dá até mais significado às relações que se mantêm, pois havendo sempre a possibilidade de ir embora, ficar é de fato uma escolha que se faz repetidas vezes. A geração Y e nós que convivemos com ela sabemos sim amar e buscamos isso — acho que o que existe é uma confusão quanto ao que é amor.
Beatriz Leite

23 de set. de 2016

O que é maturidade espiritual? - Autor desconhecido

O que é maturidade espiritual?


1. Maturidade espiritual é quando você para de tentar mudar os outros e se concentra em mudar a si mesmo.
2. Maturidade espiritual é quando você aceita as pessoas como elas são.
3. Maturidade espiritual é quando você entende que todos estão certos em sua própria perspectiva.
4. Maturidade espiritual é quando você aprende a "deixar ir".
5. Maturidade espiritual é quando você é capaz de não ter "expectativas" em um relacionamento, e se doa pelo bem de se doar.
6. Maturidade espiritual é quando você entende que o que você faz, você faz para a sua própria paz.
7. Maturidade espiritual é quando você para de provar para o mundo, o quão inteligente você é.
8. Maturidade espiritual é quando você não busca aprovação dos outros.
9. Maturidade espiritual é quando você para de se comparar com os outros.
10. Maturidade espiritual é quando você está em paz consigo mesmo.
11. Maturidade espiritual é quando você é capaz de distinguir entre " precisar " e "querer" e é capaz de deixar ir o seu querer.
E por último, mas mais significativo!
12. Você ganha maturidade espiritual quando você para de anexar "felicidade" em coisas materiais." (Autor desconhecido)


20 de set. de 2016

A pressa é inimiga das relações - Miliane Tahira

A pressa é inimiga das relações

Até que ponto a humanidade caminha na direção de um propósito essencial ou superficial ?
Estamos inseridos em um mundo fenomênico e social em que a base humana é, ou deveria ser, o relacionar-se...
Relação implica observação, respiração, entrega e troca rumo a um crescimento individual e coletivo.
Se não tomarmos cuidado o automatismo do cotidiano, o cumprir metas de trabalho e o compromisso com o externo nos distanciam do interno, da capacidade de escutar, sentir, perceber, reconhecer, relacionar-se e transcender....
A pressa dificulta o olhar, dificulta o paladar, dificulta o escutar, dificulta o tocar, dificulta o cheirar..
Sensações essenciais que nos conectam a vida e a natureza e se imbricam ao plano socio-histórico-cultural estão sendo desconectadas pelo pensamento acelerado em que o ser acaba por se auto referenciar se tornando padrão para todas as coisas, se distanciando de tudo e de todos.
O caminho torna-se solitário em vez de solidário...
Dirigir sua vida conduzindo a direção de um carro que não reconhece o posicionamento do outro na pista se assemelha a um carro-bomba em que mata achando que o isolamento é proteção. E passa pela vida sem viver e ser feliz!!!!

Vamos cuidar um do outro, olhar, tocar, sentir, viver!!!!
Trabalhar a pressão e a dimensão plena do tempo, mesmo que este dure o intervalo de um instante!!!!
Tempo não é dinheiro... tempo é relação e o que eu faço do tempo tem que gerar satisfação para mim e para o outro....

Mais do que inimiga da perfeição, a pressa é inimiga das relações!!!!

Diz o mestre Gilberto Gil:

"Não posso me esquecer que a pressa
É a inimiga da perfeição
Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos
Aprendi a ser o último a sair do avião"

Obs. Para escrever este texto tive que abrir brechas no tempo que não tenho... mas o desejo se impõe e me permito negociar com os afazeres

18 de set. de 2016

Agradecimentos- Mistérios e Mitos Sobre Criação do Mundo

Mistérios e Mitos sobre a criação do mundo foi mais um projeto de Dança do Ventre ministrado por mim e abraçado e pensado coletivamente com as alunas que objetivou o encontro de cada praticante com as suas próprias origens!!
Estudando,refletindo e vivenciando, por meio da dança, as explicações de 4 civilizações acerca da gêneses do mundo passamos a refletir sobre a existência individual e coletiva e o papel da mulher e do feminino em meio a tudo isso!!!!
Um resgate da nossa ancestralidade que, por meio da linguagem artística da dança do ventre, promoveu uma abertura de consciência gerando auto conhecimento!!!
Mais uma vez o tripé - educação, dança e auto conhecimento - conduziu a um repensar e refazer-se diante do mundo externo e interno!!!!!
Em 28 de agosto aconteceu a culminância de forma artística em um belo espetáculo feito com muitas mãos, mentes e corpos e numa partilha coletiva de saberes!!!!!
Agradeço ao universo, a todos colaboradores e alunas por este processo de realização que é ser marcada e atravessada por tantos caminhos lindos de (trans)formação, incluindo a mim mesma!!!!!

Ficha técnica do evento

Direção Aríistica: Miliane Tahira
Produção cultural: Miliane Tahira
Narração e Texto: Miliane Tahira
Criaçoes coreográficas: Todas ss bailarinas envolvidss

Musica ao vivo- Kirtan
Abrao
Artur
Adriana 
Caroline
Marcelinho

Bailarinas alunas Mito egípcio

Sofia Sinotti como Rá
Adriana Andrade como rio, petala, Tefnut e Set
Helia Pinto como rio, petala, Chu
Virginia oria como rio, petala, Chu e Osiris
Inana Tahira como rio, petala e Geb
Sueli calixto como rio, petala e Nut
Valmira Daltro como rio, petala e Isis
Ivonete Sacramento como rio, petala e Neftis

Alunas Mito Tupi Guarani

Inana Tahira como Tupã Mirim e Neandery Key
Sofia Sinoti como palmeira, serpente e Mavutzinim
Participação especial: Miliane Tahira como Pedra, onça e Neanderu Guaçu

Alunas Mito Ioruba

Ivonete Sacramento como Nanã
Helia Pinto como Iemanja
Virginia Oria como Oxum

Alunas Mito Hindu

Valmira como Shiva
Adriana como Vishnu
Suely como Brahma

Bailarinas Profissionais

Miliane Tahira - solo Mito egipcio e indigena
Tarita Mistral - solo Ioruba
Ananda Govinda - solo hindu

Fechamento do evento

Músicos+ bailarinas+ publico

Arte cartaz - Isabel Soares
Arte convite- Maria Mello
Iluminação e som- Rosangela e Murilo
Seleção imagens cenário: Miliane Tahira
Figurino: San Rocha
Fotografia e filmagem - em breve publicadas- Fabio Abu Chacra
Recepção-bilheteria: Mel Vieira
Articulação cultural - Tassio Revelat

Colaboradores aulas
Wakay
Ananda Govinda
Tarita Mistral
Andre Siqueira

Apoio: Cine Teatro Lauro de Freitas e Adalgisa Rolim Academia de Dança

Namastê!!!!!!!!!!



































Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.

(Rumi)